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INTRODUÇÃO

A primeira vez que ouvi falar em realidade aumentada foi por volta de 2016, com o lançamento do Pokemon Go, mas essa é uma tecnologia que já estava em desenvolvimento desde o início dos anos 90, no laboratório de pesquisa da força aérea dos EUA

Pokemon Go

De acordo com uma pesquisa do MarketsandMarkets, em 2020 o mercado da realidade aumentada estava avaliado em $14.7 bilhões, e é esperado que atinja $88.4 bilhões em 2026. A economia criativa é a principal impulsionadora, mas grandes oportunidades também estão presentes em outros setores como turismo, educação, saúde, imóveis, militar…

Nesse artigo eu farei um resumo sobre o que é essa tecnologia, citarei alguns exemplos de aplicações, atentarei para alguns dos riscos atrelados, e especularei sobre o que podemos esperar do futuro.

´´Qualquer tecnologia suficientemente avançada é indistinguível da magia.“

-Arthur C. Clarke

O QUE É

A realidade aumentada é uma tecnologia que sobrepõe imagens, textos e/ou sons ao mundo real.
Diferente da realidade virtual, que separa o ambiente virtual do real, a realidade aumentada os integra, e utiliza o nosso entorno para criar experiências interativas.
Atualmente a maioria dos celulares e tablets já podem ser usados para visualizar um efeito de realidade aumentada, então se você nunca viu uma, hoje pode ser a sua primeira vez.


EXEMPLOS

A Snap Inc (empresa que criou o Snapchat) é a empresa de realidade aumentada mais inovadora do mundo, segundo a Fast Company. O Snapchat conta com mais de 200 milhões de usuários diários, que utilizam seus mais de 2 milhões de filtros de realidade aumentada, com variadas finalidades, por exemplo:

  • Utilitários: ajudam a resolver alguma tarefa da vida real, como tirar medidas, traduzir idiomas, escanear objetos…
  • Entretenimento: usados em experiências culturais, como museus, filmes, festivais…
  • Jogos: trazem experiências virtuais para o mundo real;
  • Educação: promovem uma mudança cultural e social nos métodos de ensino,  estimulando e potencializando o aprendizado em qualquer lugar;
  • Expressão pessoal: quem gosta de se comunicar encontra um grande acervo de ferramentas lúdicas para compartilhar seus pontos de vista e sua personalidade;

  • Compras: permitem que seus usuários pesquisem, interajam, experimentem produtos como roupas, óculos, tênis, maquiagem… compartilhem com amig@s para saber se o pessoal curte e, por fim, compre sem sair do aplicativo.

Agora imagine poder visualizar um móvel na sua casa antes de comprá-lo. O IKEA imaginou, e  criou um aplicativo para que os seus clientes possam visualizar quaisquer dos seus mais de 2000 produtos dentro da própria casa antes de comprá-los. É o fim de dúvidas clássicas como ´´será que vai combinar?“ ou ´´será que vai caber?“.


A experiência de compra em um super mercado também pode ficar bem mais fácil e rápida com a realidade aumentada, principalmente se você não souber a localização exata de cada produto que você precisa. A Dent Reality cria aplicativos que além de mostrar onde está cada produto da sua lista de compras, cria a rota ideal para que você ande o mínimo necessário para encontrar cada produto.

Falando em não se perder e otimizar tempos, o Google Maps também integrou a realidade aumentada ao seu app com a função Live View, em escala global. Além da valiosa orientação pelas ruas do mundo, o app também mostra informações e avaliações em tempo real sobre as lojas, restaurantes e pontos turísticos que estejam ao nosso redor. Outra importante funcionalidade que está sendo implementada é a navegação por ambientes fechados, como aeroportos e metrôs. A vida dos turistas ficará muito mais fácil.

A indústria das maquiagens também já está se adaptando às novas tecnologias . A Be Beleza Tech é uma startup brasileira fundada em 2019, e o seu app utiliza realidade aumentada e reconhecimento facial para dar dicas de maquiagem e cuidados com a pele.

A realidade aumentada está se tornando uma potente ferramenta de marketing, e cada vez mais empresas estão se dando conta disso.


ARTE

Artistas geralmente são seres inquietos e experimentais, e não demorou para que alguns começassem a integrar a realidade aumentada aos seus trabalhos.

Bond Truluv é um artista multimídia alemão e, possivelmente, o primeiro artista urbano a utilizar realidade aumentada nas suas criações. 

Kaws é um artista norte americano com trabalhos expostos em museus e galerias por todo o mundo. Conhecido principalmente por suas valiosas e limitadas tiragens de toyart, grandes esculturas, e pinturas com acrílico, recentemente ele também resolveu usar a realidade aumentada para lançar uma série limitada de esculturas digitais do seu principal personagem, o Companion. 

Os museus e galerias também já estão aproveitando essa tecnologia de diferentes formas. O recurso mais básico é disponibilizar descrições e explicações sobre cada peça exposta, mas as possibilidades vão bem além do básico.

Em 2021, a National Gallery em Londres usou a realidade aumentada para levar algumas peças do seu acervo para as ruas. Qualquer pessoa com um smartphone poderia escanear os QR codes que estavam espalhados pela cidade, e visualizar as obras de arte da galeria ali mesmo.

Em 2017 a Galeria de Arte de Ontário produziu em parceria com o artista digital Alex Mayhew uma releitura contemporânea de algumas das suas obras seculares utilizando a realidade aumentada.

https://youtu.be/mHFzkV20lwQ

Também em 2017, o Instituto Smithsonian em Washington, usou realidade aumentada em uma de suas exposições mais antigas e famosas. Os esqueletos de animais do salão Bone, expostos desde 1881, ganharam uma nova dimensão, e puderam ser vistos com seus corpos completos e seus movimentos.

O Google também criou um aplicativo de realidade aumentada dedicado à arte, que transforma a sua própria casa em galeria. O Art Projector permite que qualquer pessoa com um smartphone veja obras como, por exemplo, a Mona Lisa de Leonardo da Vinci, dentro de casa, em tamanho real, em alta resolução, e grátis. 


MODA

A realidade aumentada também é uma grande aliada da indústria da moda. Comprar roupas online não é mais novidade, mas poder experimentar essas roupas virtualmente é um baita pulo do gato.  


Recentemente a Amazon lançou o seu provador virtual de tênis, e assim permite que seus clientes usem o celular para visualizar os calçados nos próprios pés, de qualquer ângulo, em qualquer lugar. O cliente também pode tirar fotos com o tênis, e compartilhar para saber a opinião das pessoas.


Uma pesquisa feita pelo Shopify revelou que o uso de 3D e realidade aumentada pode reduzir as devoluções em mais de 40%, e aumentar as conversões em até 97%. A devolução de produtos representou um custo anual de $550 bilhões em 2020 nos EUA, e o motivo principal é que o produto não era o que o cliente esperava. A partir do momento que o cliente pode experimentar antes de comprar, é provável que ele não devolva e, além da economia com a logística reversa, existe aí também uma redução do impacto ambiental resultante de uma menor circulação de produtos.

De olho na expansão da realidade aumentada no varejo, a Snap Inc comprou a Vertebrae, uma empresa que ajuda as marcas a criarem versões 3D dos seus produtos. 

Prada, a marca de luxo italiana, agora permite que as suas clientes experimentem e comprem suas bolsas usando o Snapchat.

A marca londrina Machine-A lançou uma loja inteira usando realidade aumentada durante o London Fashion Week de 2019.

Em Dezembro de 2021 a NIKE comprou a RTFKT, uma empresa criada em 2020, e que está redefinindo os limites entre o mundo físico e o digital através da realidade aumentada, NFTs, produtos virtuais e experiências reais. 

https://www.tiktok.com/@rtfkt/video/7041300000697240879

Piper Zy é além de profissional de marketing, uma artista de realidade aumentada muito fora da curva. Ela cria efeitos impressionantes em roupas, bolsas, carteiras, relógios, anéis, e até nas suas próprias unhas!

Apesar dessa tecnologia ainda não estar totalmente desenvolvida e pronta para a adoção em massa, são notáveis os grandes avanços que ocorrem cada vez mais rápido, e é questão de tempo para a realidade aumentada deixar de ser um diferencial para se tornar tão comum quanto o e-commerce.


RISCOS

A tecnologia é uma ferramenta maravilhosa que pode trazer grandes benefícios tanto para os negócios, quanto para a sociedade como um todo, mas é importante estarmos atentos e conscientes sobre os potenciais riscos que nem sempre são evidentes.

Quando usamos um filtro de realidade aumentada no Instagram, Facebook ou no Snapchat, estamos expondo nossos dados biométricos e padrões da nossa retina que, assim como nossas digitais, funcionam como forma única de identificação pessoal. Não sabemos o que essas empresas fazem com esses dados, como os armazenam, nem temos qualquer garantia de que eles estão totalmente seguros

Além da privacidade e da proteção de dados, precisamos nos precaver dos cada vez mais sofisticados ataques hackers, que podem resultar em consequências desastrosas. 

A saúde física e mental também demandam atenção e cuidado. Como toda nova tecnologia, a realidade aumentada pode ser viciante, e uma longa exposição pode ser prejudicial principalmente para jovens e crianças. O risco físico também é considerável, já que o aplicativo pode se tornar envolvente a ponto do usuário não prestar atenção suficiente ao mundo real, e causar um acidente.

Algumas medidas simples podem ser tomadas para minimizar esses riscos: Revisar os termos de uso; Evitar clicar em links de anúncios; Evitar compartilhar informações pessoais, ou números do cartão de crédito; Usar VPN; Ter um bom antivírus; e usar sempre o bom e velho bom senso. 


Futurologia

Claro que ninguém sabe o que o futuro nos reserva, mas podemos analisar algumas pistas para chegar a algumas conclusões, e imaginar algumas possibilidades.  

A realidade aumentada vem sendo estudada por gigantes da tecnologia há alguns anos, e o próximo passo que podemos esperar é o lançamento de óculos inteligentes. Diversos modelos estão em desenvolvimento, e é questão de tempo para estarem presentes no nosso cotidiano. Por exemplo:

O Google vem fazendo testes com os seus óculos que se propõem a quebrar a barreira dos idiomas, e impactar positivamente a vida de quem tem problemas auditivos.

A Apple pretende lançar em 2023 os seus óculos inteligentes que prometem facilitar a vida pessoal e profissional dos seus clientes, além de mudar a forma como se consome conteúdo online.

A Lenovo projetou os seus óculos para empresas, principalmente as que trabalham com Windows e Android. Eles também servem como óculos de sol, embora o seu design não seja muito convidativo para passeios.

A Nreal já disponibilizou para o mercado asiático os seus dois modelos de óculos inteligentes voltados para a indústria do entretenimento. Atividades comuns como ver vídeos, jogar videogame, e mexer no celular, foram para outro patamar.

O Facebook (Meta) está desenvolvendo simultaneamente 3 gerações de óculos inteligentes. O primeiro modelo está previsto para 2024; o segundo, mais leve e potente, para 2026; e o terceiro para 2028. Nesse vídeo, o próprio Mark Zuckerberg comenta o que vem por aí:

A Snap Inc lançou seu primeiro modelo de óculos em 2016, outro em 2018, 2019, e atualmente está trabalhando no seu modelo mais moderno. Essa última versão eles optaram por não vender, e deram para cerca de 200 criadores ao redor do mundo testarem, e darem os seus feedbacks. O novo modelo ainda não tem uma previsão de lançamento, mas já é possível termos uma ideia do que podemos esperar:

Se os óculos inteligentes já parecem interessantes, imagine lentes de contato inteligentes. Pode parecer um conceito de ficção científica, mas a realidade é que elas já estão sendo desenvolvidas pela Mojo Vision desde 2015, e no mês passado foram testadas pela primeira vez em um olho humano.

Drew Perkins – CEO da Mojo Vision – testando a lente de contato com realidade aumentada

Hyper Reality é um curta metragem conceitual produzido em 2016 pelo designer Keiichi Matsuda. Ele apresenta uma provocativa visão de futuro em que as realidades físicas e virtuais se fundem, e tecnologias como a realidade aumentada, realidade virtual e internet das coisas saturam completamente a cidade com mídias interativas.


CONCLUSÃO

Os avanços tecnológicos seguem um ritmo cada vez mais acelerado, e isso não é necessariamente bom ou ruim, é simplesmente inerente à nossa época, natural e inevitável. As possibilidades se tornam cada vez mais amplas e, como usuários, nos cabe perceber esse grande e potente movimento, selecionar as ferramentas que mais nos possam ser úteis, e fazer delas o melhor uso possível. O futuro é tão brilhante quanto a nossa capacidade de imaginá-lo. O que você é capaz de imaginar?

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Marcel Serrano

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